segunda-feira, 14 de julho de 2025

Hey buddy, eyes up here

Para o bem comum, não é (de novo) uma história de origem. Já tivemos de mamar com o tio Ben a morrer 329 vezes, mais uma dose de Clark na quinta podia de facto originar traumas "dia da marmota" irreversíveis. Assim é apanhar o voo, em andamento, naquele que é o Super-Homem mais falível, empático e humano de que me lembro. Esse triângulo Kent-Lane-Luthor, casa das emoções viscerais - sejam de amor ou puro ódio - é fantástico e onde o filme de facto respira. Veja-se a cena de diálogo do punk rock. Que se alia a uma voz, crítica feroz, descarada e corajosa dos nossos dias, chamando os macacos pelos nomes. O meu maior problema com esta aventura é - talvez por ser uma introdução de um reimaginado DCU - termos de percorrer um cortejo interminável de personagens, que fariam sentido numa lógica televisiva mas que aqui apenas desviam o foco do mais importante. Veja-se o pouquíssimo tempo de antena dado aos pais adotivos. Falta uma espinha dorsal. Porém esse lado falhado e gelatinoso também lhe confere um certo charme e levou-me para clássicos como Ghostbusters II, E esse sorriso na cara já ninguém me tira.

sexta-feira, 4 de julho de 2025

Revirar dos Olhos: Renascimento

Logo ao início, num museu, a personagem de Jonathan Bailey queixa-se de que o mundo perdeu o interesse nos dinossauros. Que os esqueceu. Quando li que Gareth Edwards ia pegar nesta saga pensei que ia conseguir reacender essa centelha de magia. Que poderia trazer de novo a escala, e acima de tudo o respeito. Vínhamos duma espécie de paródia onde o Starlord fazia gargaladas a um Dilophosaurus, valia tudo. Precisávamos da contemplação de Monsters e da natureza prática de The Creator. Mas se calhar precisávamos também de tempo: longe vão aquelas produções de anos, de cenários, de peripécias, de verdade. Este filme parece ter sido escrito de manhã, filmado ao almoço, editado à tarde e distribuído durante a ceia. O guião é um absoluto desastre, com diálogos palermas, fora de tempo e sem propósito. Péssima direção de atores. Há um momento em que duas personagens falam das pessoas que perderam, e a seguir riem muito (?) e nada disso volta a interessar. Outro exemplo paradigmático é o dinossauro bebé, a Dolores, que em qualquer obra competente teria uma função mais tarde na aventura. Nada. Estamos sempre a espera de uma ligação, de uma mudança, de um gancho. Porém o filme foca-se apenas no desiquilíbrio desinspirado de missão A, missão B, missão C, CGI, CGI, CGI, fim. Há flashes de Edwards - o monstro final nas sombras - e óptimas cenas de ação - a da jangada é memorável - mas depois temos toda uma ilha nova, com um novo tipo de ameaça, e parece que saímos como entrámos. Esquecidos e imaculados.