Não sei se gosto mais do gato do Llewin Davis ou do gato do Turturro, apesar de servirem basicamente propósitos idênticos: esperança. Aquelas lágrimas de rosto ferido, disforme. Ninguém merece ver-nos, vê-los, ouvi-los, Falhados, lá vão coçando a dor, e salvando o mundo. The Night Of, não é uma série só dele, não é. Um enorme crescendo de asas partidas vai-se acumulando, na possibilidade de acontecer connosco. E no regresso a casa, as personagens são suas casas, seus abrigos podres e cinzentos, de onde se levantam, se arrastam. Esta percepção do humano, do errado humano, e cíclica tentativa de redenção, está aqui filmada como poucos. Não é só dele, não. Mas são dele as alegações finais, deste meia tigela que viu no outro alguma coisa, o tal unicórnio. No final a porta fecha, respira, e o gato passa. Não é o policial tipo, é o policial do ano.
quarta-feira, 31 de agosto de 2016
terça-feira, 16 de agosto de 2016
Once Upon a Time in Alentejo
Esta coisa das falhas graves, permite que ocasionalmente, aconteçam enormes momentos de cinema numa insuspeita rua alentejana. Enormes momentos de cinema, hoje, coisa tão escassa como bebés n' Os Filhos do Homem. É isso é, nunca tinha visto Once Upon a Time in America. Já vi. E o mais incrível, no meio de todas as outras inacreditáveis conquistas que a história consegue, é aquele plano. Aquele, que eu, por viver já tinha visto centenas de vezes, das mais diversas e coloridas formas, e mesmo assim me tirou o ar. Meia dúzia de segundos, que me disseram que agora sim, que eu nunca o tinha conhecido, que nunca tinha vivido nada assim. O mais pequenito a saltitar à frente, e o andar, atrás, dos outros, com tudo a ganhar e conquistar, como se aquela ponte escondesse o mundo, ou o reflectisse. E quem nem um quadro nos desse toda a esperança que falta.
Apesar de não ser o filme português mais visto de sempre na primeira semana de julho é um filme bastante simpático
Apesar de nos ter sido oferecida num embrulho envenenado - trilogia dos remakes - esta canção, cedo se destacou das outras, e sejamos sinceros, não precisava das outras para nada. Seja por um trailer articulado, de corpo inteiro, seja pela inteligência da música, a apresentar a comédia, o romance. Não é novo mas resulta. Porque afinal. Porque afinal não tem de ser o Manuel Marques a fazer de mongolóide e a Dânia Neto com as mamas de fora, naquela portuguesice dos malucos do riso, da pura caricatura a preto e branco, com "piadas" vazias, a precisar de fundo para sabermos: ah então é aqui que os cantos da boca se elevam rumo às bochechas! A Canção de Lisboa limpa o que está a mais, traz o que está a menos, e constrói uma série de bonecos que não ofendem, melhor, que entretêm. Obviamente, não se foge do simplismo narrativo do domingo à tarde, da fantasia romântica, não há aquele salto - às vezes não tão difícil - para algo mais cheio. Ainda assim Luana Martau enche qualquer coração e com um César Mourão à altura deixam em dueto uma audiência satisfeita, com as personagens a festejar connosco, já do lado de cá, a dizer depois adeus, porque afinal o mundo é feliz.
sexta-feira, 12 de agosto de 2016
Os rebeldes somos nós
As refilmagens foderam isto tudo. Podem vir com: tem lá calma, nem sabes o que foi filmado de novo, nem sabes o que mudou, se calhar está bem bom. Não está, e como é que eu sei, sei porque este último trailer parece daqueles trailers que se faz do género "e se o Star Wars fosse uma comédia dos irmãos Farrelly", e muda-se tudo, e fica às vezes engraçado. Nunca, são sempre montagens de merda. Mas percebem a ideia. Do primeiro teaser, dum claro negrume, com frases certas, com belos planos, com belas presenças, passamos para um recauchutamento que mete em loop a música do Awakens, variações em ré menor, diálogos de pacotilha - com aquelas que prometem ser as piores escolhas de casting de sempre do universo - fugas de nave iguais às outras, menos planos da água, um frame de Mendelsohn - que nem tem direito a uma fala (???) - uma sinopse que se reduz ao que já sabíamos e no final a mama do costume. Darth Vader a bater uma no Red District. A sério amigos? Estão tão desesperados que têm de descredibilizar por completo qualquer directriz criativa, qualquer vontade nova e cair nos mesmos engodos de fã. É feio, é triste. É olhar para uma indústria que se apelida como a tal arma de destruição maciça, é ela a real Estrela da Morte, que consome tudo o que tínhamos, referências, heróis, saudades, suspiros, aventuras, sonhos, tudo dentro desta misturadora de plástico, de lixo. É olhar sem força, porque os rebeldes somos nós, e nós malta, estamos claramente a perder.
quarta-feira, 10 de agosto de 2016
Se houver quinto já não sei classificar
Só viste agora? Só. Sei lá derivado de que hecatombe. Mas já está tudo bem, ainda para mais é daquelas malhas sequela fácil de classificar com base na regra do "quarto superlativo porém inferior" que diz que: o quatro é melhor que o três, é mais ou menos idêntico ao dois mas é inferior ao primeiro. [REC] 4: Apocalipsis, é isso. E tem ainda o motor de um barco para foder zombies, o que por si só é um upgrade digno de um belo e gordo aplauso.
terça-feira, 9 de agosto de 2016
Voltar a Dublin
Sing Street é o meu favorito de 2016. Mas ainda falta tanto, dizem os hipsters do Restelo e os chatos do Caralho. Falta, esta chouriça final de verão, depois dois meses com mais uns anestésicos, entra natal, família, dobragens em português, vomitar arroz pelo nariz, alguns filmes dos óscares. Ah e claro o Papagaio diz sempre tuk tok tik, filme da Polinésia Francesa vencedor dos festivais de annes, erlim, carno, neza, tesa, e afins, melhor do ano para o trio do Público. Estão a ver, falta nada ou pouco, e mesmo que faltasse, Carney volta a casa para nos lembrar de que é feito tudo, e de como se faz tudo. Os seus filmes sem mistérios, são pautas, que se vão soltando e é a necessidade que faz a diferença: não vive das canções, vive-se nelas, construindo em cima delas, degrau a degrau. Num incrível e sensível bom gosto, de época, de cor e coração, como se acreditar nunca fosse excesso. A música e o cinema em perfeita simbiose, moldando-se nas suas ideias, na destemida ideia de que podemos criar para amar, para dedicar. Aquele adeus do irmão, aquela festa, é possivelmente dos momentos mais bonitos que o cinema recente me ofereceu. Absolutamente imperdível.
O 120º filme de Samuel L. Jackson
Nada a acrescentar às palavras do mestre. Para lá do inofensivo de facto. Apenas que o final não é apressado, o final é um daqueles casos em que o guião ficou na cadeira, à mão de uma cabra, guaxinim, aye aye, ou uma merda qualquer que comeu 30 páginas, sem dó nem piedade. De modos a que quando o Tarzan lá chega é só duas bofetada e depois temos logo é de ser todos amigos com os animais. Porque amigos destes não são demais na vida. Que vêm aqui mostrar.
segunda-feira, 8 de agosto de 2016
Turtudo
Nem sei como apelidar, porém é de facto categoria própria, a dos bravos que desaparecem. Vão flutuando, em graçolas que nada abonam, que não fazem jus, ou então simplesmente adormecemos suas presenças. Até aquele dia, em que percebemos de novo. Em que a câmara percebe. E não larga mais. John Turturro é uma sala, faz uma sala, e voltar a perceber isso devia ser luz obrigatória. Currículos escolares e tudo. Aquela presença que só com corpo e rugas faz metade. O seu momento em The Night Of - um policial cada vez mais interessante da HBO - é um capítulo inesquecível na história dos papelaços, na história dos detetives, na história da televisão, caralho, até na história da podologia. Caso para dizer que quem tem Turturro tem tudo.
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