sábado, 22 de março de 2025

Bridget Jones: Sem Tempo Para Entreter

Mais valia uma prequela. Bridget Jones em nova, antes de se tornar, hmm, Bridget Jones? Na universidade, aos trambolhões, se calhar com a Sidney Sweeney e outros jovens extremamente atraentes. Estilo Mamma Mia dois. Ou então, foda-se sou tão previsível, Bridget Jones no espaço. Robozinho cordial, Robozinho safado, gosta dos dois mas depois no final, sob a luz de uma chuva de estrelas, escolhe o primeiro. 

Em 2025 ficamos com este episódio de televisão, profundamente desinspirado - especialmente no que toca ao humor - e cronicamente medricas - especialmente no modo como foge a todo e qualquer tema de interesse. É uma dança fora do seu tempo, como aqueles especiais constrangedores do nariz vermelho, só aqui em duas intermináveis horas. 

sexta-feira, 21 de março de 2025

Cada geração tem o Wild Wild West que merece

Pois é juventude, isto não não pode ser só o Chalamet a conduzir vermes de areia na carreira das 17h15 para o Barreiro, têm de gramar também com estes pastelões-evento diretinhos para a TV. E enterrando logo a inexplicável peruca do Star-Lord, a conclusão a que eu chego com este The Electric State é que os Irmãos Russo não sabem brincar: têm os bonecos, têm os veículos, têm os castelos, têm os edifícios, mas não sabem o que fazer com eles. Chocam apenas, plástico contra plástico. 320 milhões arbitrariamente atirados ao ar, que se refletem em efeitos espantosos mas que engolem qualquer desígnio da escrita, da ação e da escala. Acabamos a salvar o mundo no jardim da Alameda. Tudo isto quando ainda o ano passado tivemos uma lição de pós apocalipse com Fallout, ou, em 2020, do mesmo autor, a belíssima Tales From the Loop. E se a cauboiada steampunk de 1999 tinha aquela ginga do Will Smith para abanar o rabo esta só nos deixa mesmo a abanar a cabeça.

quarta-feira, 19 de março de 2025

Regresso ao Flutuo

[SPOILERS ] A chamada narrativa flutuante. Vaguear com a câmara, à escuta, à procura de fragmentos e pedaços de conversa. Soderbergh é aquele velho amigo que vai misturando e experimentando, como um  bar de cerveja certinho que tem sempre coisas boas na ardósia; e essa perspectiva é de facto um bom refresco, fazendo uma parelha curiosa com o A Violent Nature, também do ano passado. Porém se este lado voyeur me viciou, o argumento de um fantasminha viajante no tempo já não me deixou em completa paz. Estou na dúvida se era preciso mais subtileza ou mais informação para que esse twist funcionasse; até porque qualquer assombração que se preze queria era evitar a própria morte ou não? 

terça-feira, 18 de março de 2025

Lobisomens do Século XXI - Werewolves


Quando saiu o primeiro The Purge não fiquei fã. Pareceu-me escuro, fechado, repetitivo. Até me vou citar a mim próprio só por causa das coisas:

"Conhecem aquele momento em que alguém está quase quase a falecer e mesmo no último instante algo acontece. Pois bem The Purge é isto vezes 30, do início ao fim (...) (Miguel Ferreira, 2013)"

A crítica continua. Fui bruto na altura. Muito bruto. Mas isto para dizer que as vezes uma obra não nos encanta logo mas temos de sempre de a calcular na grande ordem dos tabuleiros futuros. Como se o resto do mapa estivesse ainda escuro, por explorar. A purga cresceu, expandiu a sua mitologia, veio o Anarchy e o Election Year, óptimos jogos de possibilidades, levando a fuga para a rua, crescendo do povo para as esferas do poder, e mantendo o seu protagonista: o meu querido Frank Grillo. É por ele que vos estou a espetar este secão sobre a saga The Purge - que depois arriscou numa prequela e numa incursão mexicana que preferimos esquecer - uma vez que este meninão entra numa espécie de purga com lobisomens, intitulada Werewolves: uma vez por ano, uma super lua transforma qualquer transeunte num cruel lobisomem. Por isso, de um lado temos a população a fechar-se, bem mas bem, em casa durante essa noite e depois temos o Grillo que para além de ser ex-militar - óbvio - é também microbiológo - twist - a tentar resolver esta embrulhada. A narrativa é previsível, os lobisomens são meio farsolas e espetam-nos com lens flare minuto sim minuto sim. Porém, gosto de pensar neste filme como um laboratório de uma mitologia que poderá crescer e explorar todos esses jardins proibidos da licantropia. 

sexta-feira, 14 de março de 2025

Ep.2 - Dante´s Peak/Volcano (com Carlos Reis)

O chão é lava. Miguel, de chinelos, pede ajuda ao seu cinéfilo da proteção civil favorito: Carlos Reis. Juntos, efusiva e explosivamente, percorrem a atribulada estrada da vulcanologia. Depois de piroclastos, cinzas, cães que saltam à última da hora para o jipe, lagoas ácidas, bóinas, tampas de esgoto voadoras e estupendas lições de humanismo chegam finalmente ao seu destino. Lugar de onde nunca deviam ter saído: os anos 90.

Ouvir episódio.

quinta-feira, 13 de março de 2025

Hey, Mickey!

Não vou comparar Mickey 17 a uma obra de 2009, com nome de satélite natural, porque não sou chibão como vocês. Para quem não viu o filme, ao ler essa comparação vai ter automaticamente o prato azedado, por isso sigam as minha pegadas e comecem assim: a televisão recente tem utilizado com bastante mestria o múltiplo de eu, quer seja o eu em vários invólucros - o corpo como um fato em Altered Carbon - o eu em várias realidades - o multiverso deprimente de Dark Matter - ou o eu trabalho/casa - a inesperada batalha interna de Severance. O cinema também não se tem deixado ficar e em 2023 o Cronenberg Junior encantou-nos com o seu Infinity Pool - o outro eu enquanto cruz de todos os pecados. O filme de Bong Joon Ho vai buscar este sadismo como ponto de partida: um descartável, uma pessoa que se sujeita às mais horríficas mortes em prol da ciência e da colonização humana de um inóspito planeta. Gosto muito como esse lado negro se imiscua no noir, com a narração que nos leva a mil e uma histórias da viagem, e no melodrama, através do improvável e belíssimo piano de Jung Jaeli. Esse lado da identidade, onde cada número se traduz num humor, se por um lado é o coração da intriga por outro acaba por confinar o filme a uma teia de corredores e enredos secundários com pouco interesse. Senti falta, especialmente na segunda metade, de espaço, de aventura. O ar fresco - muito fresco neste caso - faz bem e o Mickey volta a ter a mira afinada no final, resultando numa irresistível e obrigatória bizarria do género que devemos mimar como um filho: a ficção científica.

terça-feira, 11 de março de 2025

Quem és tu miúdo?


Vou ser sincero. Não é fácil. Primeiro, entrar na cadência. Depois, saber respirá-la, olhá-la. A espaços senti cansaço na exploração, no querer aproveitar ao máximo as possibilidades; o segundo acto sofre um pouco com isso. Porém, factos são factos: Nickel Boys é um feito cinemático inacreditável, inventivo e inspirador. A perspectiva usa esse lado íntimo - como o Perfect Days - da luz, dos frutos, de uma composição perfeita até nos sítios mais contaminados. Para além disso manipula habilmente um jogo de espelhos, de identidades, de afinidades, desaguando num final comum e agregador. Muito curioso para o próximo take de RaMell Ross.

segunda-feira, 10 de março de 2025

Aquiles, dancinhas e jacarés

Gosto sempre de uma boa macacada nos créditos finais. Desde o Bring It On que criei este laço com pessoas embriagadas a fazer uma série de dancinhas, com mais ou menos piada, utilizando uma canção estandarte do filme. Este You're Cordially Invited faz isso com Islands in the Stream, o clássico de Dolly Parton e Kenny Rogers. Para além disso, tem jacarés, outra fraqueza aqui da casa. É um tronco a boiar? Nope, é o cabrão dum jacaré porque esse bracinho não se arranca sozinho, e atenção que o The Bayou já aí anda. Somando estrela com estrela, temos então esta categoria única e irresistível de "Filmes com jacarés e dancinha no final" que poderá evoluir um dia para "Filmes com jacarés a fazer dancinha no final".

sexta-feira, 7 de março de 2025

Enquanto Morrias

Já tinha uma dívida antiga com Josh Ruben por, no seu Werewolves Within, ter trazido os Ace of Base para os anos 20. Agora este sentimento reiki de gratidão prevalece com o seu mais recente Heart Eyes: ao contrário dos seus homólogos juvenis que se esforçam por desconstruir géneros sendo muito divertidos e muito meto-nostálgicos, este filme é uma comédia romântica. Ponto. Rapaz conhece rapariga, têm lugar uma série de tropelias e ficam juntos no fim. Sucede que, essas tropelias são matanças à bruta no Dia dos Namorados. O terror e o seu assassino mascarado cruzam-se no caminho, quase como se tivessem a estragar outra obra, sem aviso, sem travão. Resultando num festival curiosamente refrescante.

quinta-feira, 6 de março de 2025

Ep. 1 - The Pope's Exorcist/The Exorcism (com Pedro Cinemaxunga)


Se o Papa tem um exorcista, nós temos um especialista em filmes onde o Papa tem um exorcista. Pedro Cinemaxunga, e sua vasta experiência em possessões cinéfilas, é chamado a intervir, exorcizando todos os demónios recorrentes de um primeiro episódio. Discute se o recente e estranho binómio The Pope´s Exorcist e The Exorcism, que não só partilha o crucifixo como também o seu protagonista: Russell Crowe, esse brutalhão que não conseguimos deixar de amar.

quarta-feira, 5 de março de 2025

Salsada na savana: edição de autor

Oh Mufasa, esta confusão toda por causa duma chavala? Confusão também nestas duas horas de quem é quem leonino, que nos continuam a manter afastadas de qualquer laço ou interesse. E mesmo saltando esse muro - já presente na adaptação live action de O Rei Leão - somos presenteados com uma aventura sem jornada. É uma história nova de facto, mas será que esta malta não viu o Em Busca do Vale Encantado? Onde está o encanto? A amizade? As peripécias? A chegada? Barry Jenkins tinha a receita mas decidiu pôr tudo na Bimby. Fujam.