sexta-feira, 30 de setembro de 2016

O isco

Esqueçam o papá e a mamã, o Jesus e o Vitória, chegou a nova questão que promete rebentar matrimónios e apoquentar uma geração inteira de progenitores. Gostas mais do Train to Busan ou do The Wailing? É esta que interessa em 2016 e é esta que vai pôr toda a gente a falar. É difícil raios. Fodido mesmo. E, apesar de ser um Busanete, ainda estou a processar a genialidade do seu par. The Wailing apanha-nos na curva, porque nos amolece. Dois cromitos, neste vídeo, dissecam bem este mecanismo: está construído de forma a que a guarda desapareça, na comédia e na gargalhada, para depois numa espiral de loucura, com tempo, sem darmos conta do anoitecer, nos esmurrarem e nos espetarem com um dos finais mais aterrorizantes da década. É um isco. É um belíssimo pedaço de cinema.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Essa parte do Patrick Swayze é boa

Eu podia desenrolar o papel higiénico do errado e vê-lo ir e ir e ir até embater num doce obstáculo a uns bons quilómetros de distância. Podia falar dos débeis mentais que continuam a dizer: ah mas não podemos dizer mal antes de ver, ai ai ai, é muito feio, temos de ver primeiro para saber se é mau ou não. Não temos, chatos do caralho, podemos confirmar que é intragável, terrível, horrível, agora saber já sabíamos há muito tempo. É uma questão de matemática, é Paul Feig mais "a gorda" mais "SNL" mais não interessa porque é sempre a mesma pastilha. Que cola uma vez mas depois começa a secar, a enjoar. Podia também falar das interpretações desinspiradas. Da inacreditável falta de química entre elas as quatro. Da ausência de bons diálogos. De humor. Dos cameos mais forçados e tirados a ferros da história dos cameos. Podia falar disso tudo mas o que mais me chocou - mesmo de ficar assim apreensivo, por vezes triste - é a trapalhice técnica. O filme é retalhado como se estivéssemos no Estado Novo, o que nos chega - como aconteceu em Suicide Squad - são pedaços de uma ideia, uma fita mal colada, mal montada. Uns são erros de raccord, como na cena do concerto, outros são simplesmente passagens amadoras, como do plano da câmara municipal para outro onde elas estão a caminhar num beco, é mau, não cola, não flui. Adeus editores, descansem em paz.

Au revoir Elliot

Ao menos fiquei a conhecer aquela magnífica canção, da traça, último episódio, em jeito de adeus. É isso, que esse acenar tenha então algum sentido, Mr. Robot, Sam Esmail, eu fico por aqui. As voltas já não são voltas que se concretizam, são múltiplas linhas que se bifurcam sem rumo, afastando-se mais e mais umas das outras. A primeira temporada tinha os seus mistérios, os seus pretensiosos planos e arranjos, mas no final era certinho, era uma vénia, tirei de facto o chapeú. Encantado. E pelos vistos não era o único, não éramos os únicos, mas mais que nós todos estavam eles, pelos seus umbigos de escrita. A pensar que de novo iríamos aquela fonte, cair naquele truque, suportar aquela dúvida. Levar com arcos ridículos como a outra que leva uns murros ou a loira que twin pica, twin pica muito. E o chinês vestido de gaja, e o Dark Army que mata uns mas protege outros. Respondemos a tudo, dizem no final. Não responderam a nada e não deixaram sinceramente nada para sonhar, prever, discutir. Trapalhada, e se disserem que é arte, estilo, ou que uma série não consegue responder a tudo de forma equilibrada e fechada vão ver The Leftovers que depois conversamos.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

O filme do ano é coreano

Train to Busan está a ser vendido por aí, nas praças e mercados, como o melhor filme de zombies desde que o outro cagou uma vela. Expressão que acabei de inventar, sinónimo de que passou muito tempo, há muito tempo. E não podia ser mais enganador e redutor: esta malha coreana não é só melhor filme de zombies da década, é também o melhor filme de ação,  o melhor apocalipse, o melhor terror, o melhor thriller, desde que os blockbusters eram filmes. Vem redefinir esse mesmo conceito, dar-lhe vida, num cinema tão completo, tão cheio de recantos e - lá vou eu cair no mesmo - de cenas. Foda-se, há quanto não era eu presenteado com uma cena, coração a rasgar, como aquela do escuro, dos túneis que ora apagam ora acendem. Não pára, só cresce, com um visual incrível e com um conjunto de personagens que seguem todas as regras do estereótipo mas que em simultâneo existem: a gaiata, a grávida, os jogadores, o pai, os pais, a velha, são eles como sempre mas também são eles como nunca. Como nunca os vimos, para nos oferecer um avassalador adeus, e um plano final cheio de tudo. Cheio daquele vale a pena.

sábado, 17 de setembro de 2016

We skipped the light fandango

Uma vida inteira: sim os Commitments foram uma banda, depois houve o filme. Lembro-me de todas as referências, os posters, os sítios onde estavam os posters, da música. Até ontem, ou anteontem, quando finalmente toco o filme de Alan Parker e lá percebo. É viver lá dentro, no fundo é o que faço com todos os outros, mas neste ingénuo, seguro de que não haveria barreira. Delícia, que tem o melhor diálogo/monólogo final de sempre. É resposta para quase tudo na puta desta vida. 

Jimmy Rabbitte: [pretending to be Terry Wogan] So, lookin' back Jimmy, what have you learned from your experience with The Commitments? 

Jimmy Rabbitte: Well, that's a tricky question, Terry. But as I always say, we skipped the light fandango, turned cartweels 'cross the floor. I was feelin' kinda seasick, but the crowd called out for more. 

Jimmy Rabbitte: [pretending to be Terry Wogan] That's very profound Jimmy! What does it mean? 

Jimmy Rabbitte: I'm fucked if I know,Terry!

Try a Little Tenderness e depois vota

Andava com esta, aliás ando sempre com esta, mas tinha a ideia de o assunto já aqui ter sido escrutinado. Afinal acho que não, ou se calhar foi e mama-se de novo, é importante. Try a Little Tenderness, qual o seu melhor desempenho em película. Votação aqui ao lado, exemplares aqui em baixo.







My baby just cares for me

Ninguém consegue, mesmo depois de tudo, responder à questão que o título impõe. What Happened, Miss Simone?, não sabemos, e o próprio documentário tenta não escolher a resposta. O que por um lado faz dele apenas mais uma biografia, bem montadinha, mas sem qualquer ponto, rasgo ou reviravolta de interesse. Início nasce, final morre, é o mais fácil e foi assim que a Netflix contou Eunice Waymon. Por outro foi assim que o mesmo canal contou Nina Simone, todas as suas sombras, batalhas, monstros e baladas, para nunca esquecer, voltar a ouvir, voltar a aplaudir. Voltar a ela, ela, e isso é sempre um enorme prazer.

Os olhos de Alex Essoe

Perseguida de perto por Anya Taylor-Joy, Alex Essoe está a uns segundos escassos do recorde olímpico para rainha da gritaria. E não deixa de ser engraçado - spoilers a partir daqui -  como as duas se deixam monstrificar, despir, usar, para passar ao próximo nível. Para nos assustar e apertar o são, com riso nervoso. São destas que estamos à procura. Não tanto a sua prestação em The Neighbor - obra que, apesar de não ter a complexidade sádica de The Collector tem o seu protagonista, um scream king e um badass do caralho, por isso vale a pena sim - nem em Tales of Halloween - porque não vi - mas sim Starry Eyes, que resumindo é o Neon Demon mas em bom.
Com toque de The Fly, Mulholland Dr., Black Swan, e mais. Ainda para mais, eu pensava que isto era sobre uma gaja que ficava ceguinha e recebia outros olhos, enfim, o clássico do sub-género "foderam-me a vista". Mas não, é de corpo inteiro das vísceras, das ganas e da ambição, de fazer tudo, até apodrecer. Com um ritmo crescente avassalador, conquista-nos da pior/melhor maneira, sem paninhos quentes, sem dó. Uma das enormes surpresas atrasadas que ganha já lugar de referência aqui nas minhas listinhas.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Pouco ou quase nada

Diga-se de passagem que estas novas adaptações live action da Disney estão a sofrer do síndrome Marvel: é tudo bom. Muita bom. Excitação, foguetes e bombos. Até tremo, quando sair a Hermione e o mau do The Guest. Pete´s Dragon não foi excepção, no calor e notas altas que se fizeram sentir, o que obrigou aqui o fã do original a ir ver uma merda dobrada em português, como se estivesse em Espanha. Tirando isso - que magoa e afecta - o filme tem um tom giro, conseguiu distanciar-se com personalidade: nas paisagens, na floresta, na fotografia. A sequência da fuga do hospital é um mimo. Canções a condizer com o cenário, com a viagem. O que falta? Falta aquela maquiavelice dos velhos clássicos, que o velho clássico tinha. Apesar do desenho animado e do tom musical as personagens sofriam: o puto era mal tratado, os maus eram sujos, a senhora era uma desgraçada à espera do marido, havia um farol, no final o dragão ia embora. Havia ali muito coração à solta. Neste aligeira-se tudo à medida dos lençóis, dos tempos fininhos e agradáveis, sem querer bater. O que feitas as contas acaba por bater pouco.

Ansioso

Quando um gajo pensa que a Anastasia e o zarolho tinham levado um amarelo e estavam suspensos por tempo indefinido, eis que novo trailer emerge. Surge que nem pontapé nos tomates para nos adoecer o dia. Agora com máscaras, a Kim Basinger e uma ex fodida da vida. Quanto a sex appeal, sexo, ganas, qualquer coisa, isso é que não. Pode ser que no terceiro, o 50 Sombras Ainda Mais Enjoada e Sem Sal.

Nova fragância de NWR

A sorte do Suicide Squad, em não ser o filme mais horrível de sempre do ano para sempre, é que logo a seguir - que merda de ideia - mamei o The Neon Demon. Que também é uma inexplicável sucessão de frames cintilantes. Existia ali alguma coisa, em alguma fase do projecto? Não sei. Certo é aquela máxima da minha avó, que já aqui apliquei noutros casos, cai aqui que nem um preservativo: The Neon Demon é um daqueles filmes que quando começa, acaba. No instante de arranque, em que a ação de facto se resolve por um caminho, créditos a negro. E de novo as iniciais NWR, como no início, debaixo do título. Mas quem é que este gajo pensa que é? A Disney? Uma marca? É isso? É isso que explica a ausência de qualquer conteúdo, de qualquer personagem, de qualquer transformação ou ponta solta, ponta de interesse, como o outro cisne, que de facto se sujou. Aqui não, nada, zero. Duas horas de vermelhos e cores de rosas, e pedidos de desculpas ao meu irmão: desculpa lá puto, pensava de facto que era outra coisa.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Amigos em comum

A Alycia Debnam-Carey é uma gaja bem boa, que entrou no The 100, entra no Fear the Walking Dead, e fez agora um filme de terror muito parecido/igual ao Unfriended. Nem ia ver, mas pronto, rabo de saia e tal, peidas, aquela promessa, beicinhos, e dou por mim dentro de Friend Request. Que não é grande merda mas revoluciona um bocado as maldições: antigamente escritas em livros, pergaminhos, paredes, no corpo, passam agora para o código. O próprio código do facebook estava de maldições e não dava para apagar aquela merda. É a internet que fica de espíritos malignos e não há hacker que nos salve. Como é que eu explico aos meus filhos, num futuro próximo, o que era um bom e velho livro de bruxaria?

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Secret Story - Versão Cinematográfica

Até se podia manter a Teresa Guilherme, mas virar a coisa mais para o cinema, com concorrentes porreiros que nos oferecessem segredos como estes:

SOU O KEYSER SOZE (Verbal)

O MEU PAI CORTOU-ME A MÃO (Luke S.)

ESTOU MORTO (Malcom C.)

NÃO ENVELHEÇO PORQUE LEVEI COM UM RAIO (Adaline B.)

TENHO O NOME DO MEU CÃO (Indiana J.)

A MINHA MÃE TENTOU PAPAR-ME (Marty M.)

TRAMEI O ROGER RABBIT (Judge D.)

SOU FRUTO DA IMAGINAÇÃO DUM ALUCINADO (Tyler D.)

FIZ AMIZADE COM UMA BOLA DE VOLEIBOL (Chuck N.)

SOU O ZORRO (Alejandro M.)

QUANDO ERA NOVO DEIXARAM-ME SOZINHO EM CASA (Kevin M.)

JÁ ENCOLHI OS MEUS FILHOS (Wayne S.)

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Até tu

Duas pitas, no final: a banda sonora é bué da fixe. Ya tem uma banda sonora bué da fixe mesmo, responde a outra. Entrego os óculos das três dimensões e vomito, vomito como nunca antes tinha vomitado, para cima da porta de vidro, do pai com as miúdas, dessas pitas, de toda a gente. E não. Esta parte é mentira. Fui só para o carro, fodido. 

Suicide Squad é horrível de uma forma não respeitável, não ordeira e não pensada. Isto porque não é um filme. Dá a sensação que Ayer fez de facto uma obra e que depois alguém disse: olha agora refaz isto como se eu fosse muito burro. Como se fossemos todos. Então o que acontece é uma sucessão de tutoriais, de como se foi de A para B, caindo depois numa narrativa vazia que não tem por onde andar. E a montagem, foda-se a montagem. Nem nas novelas se pratica uma edição tão amadora, ela fala e está lá um frame a mais, um frame a mais que mata, incendeia e deita por terra qualquer ritmo. Está tudo mal. Mãos na cabeça.

Porque é que o filme começa só com duas personagens presas? São elas as protagonistas? Porque é que depois as apresenta no restaurante? Porque é que o que morre logo não foi apresentado? O que faz ali o Joker? O que faz ali o Batman? Porque é que os motivos do vilão são de novo os mesmos motivos de todos os outros vilões dos últimos 45 filmes de super heróis? E porque é que de repente já são todos amigos? Amigos???? Foda-se mas o argumentista sabe sequer o quer dizer a palavra amigo? As músicas, as tais músicas das pitas e que fizeram as delícias dos trailers, estão mal, são fait divers, metidos a martelo para nos hipnotizar com um filme que não está lá. Culpa de quem? Não pode ser só do Jai Courtney, o rebenta mitologias. O resto do elenco está terrível, até ela, por favor, tirem as mãos das calças, até ela está mázinha. O realizador, o estúdio, o editor, as novas audiências? Todos e nenhuns. Pior que o novo Fantastic Four, pior que qualquer coisa. Os fãs podem tentar encontrar ali alguma coisa, alguma linha, alguma bóia. Mas não, esqueçam esta gatafunhada e partam para outra. Como eu.

Mais tubarões

Mas não desistam amantes de filmes com tubarões, se a peida da Blake Lively não vos convence, têm, de borla, In the Deep, que, como está na moda já teve outro nome (47 Meters Down). Uma daquelas gemas que ninguém percebe bem de onde veio e de como foi assim tratada. Obrigada Santo Sr. Joaquim, rogai por nós. Para além de nos esquecermos que o Matthew Modine alguma vez teve uma piruca branca em Stranger Things, relembra-nos que a Mandy Moore ainda existe. Ela fez daqueles filmes com princesas, Nicky Sparks e filhas dos presidentes, alguma dança talvez. Certo é que aparece aqui, com uma irmã, igualmente boa, numa situação complicada: as duas ficam presas numa jaula, no fundo do oceano, com uma catrefada de tubarões malinos a quererem lhes afincar o dente. Para além de estar incrivelmente bem desenhado a nível visual, constrói, em mais de metade da sua duração, um cenário simples mas incrivelmente realista. Fechado. Filmado em qualquer lado mas só ali, um verdadeiro fundo, um set de desespero e desistência. Depois é ir à luta, sempre em contra relógio, sempre com a pressão bem latente, esquecendo as merdas que nos esperam cá em cima, das batalhas e tristezas. Ali é tentar ter luz e aguentar. Uma das surpresas do ano.

E o nome da praia?

Bem, se pensam que vão ver um filme onde a Blake Lively é atacada por um tubarão, desenganem-se, The Shallows é um filme onde o tubarão é atacado por uma Blake Lively. Foda-se leva poucas e boas o desgraçado do bicho. Também aprendeu a lição, mas ninguém merece uma surra daquelas. O filme, tirando os desnecessários adereços familiares - que ainda para mais são apresentados com o mau gosto das novas tecnologias - aguenta-se bem. Explora o corpanzil da menina, para cruzar a perna, mas também como elemento frágil, no quadro de todos os outros poderosos e incontroláveis. O que é interessante e obtém bons planos. A bola de voleibol é a gaivota - mesmo fofinha a filha da puta - e o nome da praia fica para a sequela. Com uma gaja falsa claro.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Fez madeixas

Então oh minha cabranagem, trailer do novo Underworld e ninguém me avisa? Uma mitologia super boa onda, onde vampiros e lobisomens se papam mais rapidamente que médicos e enfermeiros na anatomia da outra. Não é que eu seja o maior fã do mundo, nem sei bem qual foi o último e sempre achei a gaja um bocado magricela, mas é uma questão de respeito percebem? Vá, continuamos numa boa mas para a próxima ring ring sim?

Decisão crítica, não o filme com o Seagal

Estive ausente algum tempo e quem me conhece sabe que eu costumo estar ausente um pouco de tempo, não algum. Não é normal, de facto, e o que se passa é a vida. Metem-se férias, um gajo bebe muito, mesmo antes das férias, e depois nas férias bebe ainda mais, fica cansado e dorme. Manhãs inteiras e quando se vai para escrever nova bomba no Sr. Joaquim. Difícil gerir, e a verdade é que me sinto exactamente na mesma em relação a este meu espaço. Por isso o que vos queria transmitir, e não imaginam como me custa, é que o Créditos Finais vai continuar. Aqui e além, um dia ou outro, lá venho mandar um desabafo, lasanha crítica, caralhadas, o habitual. Sei que poderá ser duro para alguns de vocês que sempre me seguiram mas o carrossel é assim, e o futuro só o Nicolas Cage no Next é que sabe. Pelo menos os próximos 2 ou 3 minutos acho eu.